quinta-feira, 31 de maio de 2007

Amores podem florescer a qualquer hora, em qualquer lugar, ainda que numa guerra

O Codec de Snake toca.

Campbell: Snake, sobre Meryl.
Snake: Sinto muito, coronel.
Campbell: Snake, ouça.
Snake: Não consegui protegê-la.
Campbell: Você fez o que pôde. Agora, vamos ver o que dá.
Snake: Coronel...
Campbell: Ela se recrutou por vontade própria. Estou certo de que estava preparada pra isso.
Snake: Não, você se engana.
Campbell: ...
Snake: Ela achou que tinha se tornado uma soldada. Disse que foi a única maneira que achou pra ficar mais perto do pai que já morrera.
Campbell: Ela disse isso?
Snake: Ela não estava preparada para combates de verdade. Eu não devia ter exigido tanto. Foi tudo minha culpa.
Mestre: Não é assim, Snake.
Snake: Mestre, o que foi?
Mestre: Desculpe por interferir, mas não consegui só escutar dessa vez.
Snake: Mestre...
Mestre: Snake, você pode, sim, se arrepender... é natural. O que você não pode é se punir por coisas do passado. Esse caminho leva à loucura, pode acreditar.
Mei Ling: Ele está certo. Não pise em você mesmo, Snake. Não cai bem para essa lenda que você é. Por outro lado, até onde sabemos, a Meryl está bem, certo?
Snake: Mei Ling...
Campbell: Snake, esqueça a Meryl e pare o Liquid. É o desejo dela também.
Snake: Tudo bem. É o que ela diria.
Naomi: Snake?
Snake: Sim.
Naomi: A Meryl... é bem especial pra você, não?
Snake: Sim, ela é especial. Não existem muitas mulheres como ela por aí.
Naomi: Não foi isso o que eu quis dizer.
Snake: Ela é a sobrinha do coronel e uma companheira de luta.
Naomi: Só? Ah, por favor...
Snake: Isso parece um interrogatório policial.
Naomi: Não, eu só...
Campbell: Eu acho que vem dos genes...
Snake: Dos genes? Do que está falando, coronel?
Campbell: Nada, só me lembrei do avô da Naomi. Pelo o que ela disse, ele chegou ao alto cargo de secretário assistente no FBI nos tempos de Edgar Hoover.
Snake: Verdade?
Naomi: Sim... ele era japonês e se tornou o investigador secreto pra prender a máfia.
Snake: Quando isso?
Naomi: Por volta dos anos cinqüenta, acho.
Snake: Onde?
Naomi: Acho que em Nova Iorque...
Mestre: Naomi, achei que você não tivesse família...
Naomi: Bem... eu... eu pesquisei depois de me tornar adulta. Meu avô já estava morto quando descobri essas coisas. Nunca tive chance de conhecê-lo.
Campbell: Oh...
Naomi: Snake, boa sorte.
Campbell: Se cuide, Snake.

Snake chega à primeira torre de comunicação. Para passar para a segunda, é necessário utilizar uma passagem no topo delas já que todas as portas não podem ser abertas pelo cartão de segurança que Snake possui. Ao chegar à passarela, Liquid em seu Hind a bombardeia e Snake usa uma corda para descer até uma outra passagem alguns andares abaixo. Com cautela para não ser acertado pelos tiros do helicóptero, Snake entra na segunda torre e se esconde ao ouvir passos de alguém se aproximando. Após respirar, ele subitamente se revela pronto para atirar, mas não vê ninguém no corredor. Otacon desliga a camuflagem Stealth.

Snake: Parado!!!
Otacon: Não atire! Sou eu! Não atire, Snake!
Snake: Otacon? Como você entrou?
Otacon: Não foi tão dramática como a sua entrada... Tenho medo de altura!
Snake: Você me viu?
Otacon: Vi. Eu estava escondido atrás de um caminhão, graças à camuflagem. Snake... Você é incrível! Parece até herói de filme ou coisa do gênero.
Snake: Não. Nos filmes, o herói sempre salva a mocinha.
Otacon: Você tá falando da Meryl... Sinto muito... esqueça o que eu disse. Snake, tem uma coisa que eu precisava muito perguntar pra você, por isso que o segui até aqui.
Snake: Pergunte.
Otacon: Você já... amou alguém?
Snake: É isso que veio perguntar?!
Otacon: Não... quero dizer... eu estava imaginando se mesmo os soldados se apaixonam...
Snake: O que está tentando dizer?
Otacon: Eu queria perguntar se... você acha que o amor pode brotar mesmo no meio de uma guerra?
Snake: Sim, eu acho. A qualquer hora, em qualquer lugar, as pessoas podem se apaixonar umas pelas outras. Mas, se você ama alguém, você deve estar apto a protegê-la.
Otacon: Também acho...
Snake: Você está com uma aparência horrível, tem certeza de que está tudo bem?
Otacon: Relaxe, se eu fizer isso, não importa.

Otacon liga a camuflagem Stealth.

Otacon: Eu finjo que não estou aqui, então não me assusto.
Snake: Que lógica estranha... conto com você.

Percebendo que o barulho do helicóptero não cessa, Snake sobe até o topo da segunda torre, o outro lado da passagem que foi destruída. Liquid o avista do helicóptero.

Liquid: Finalmente a cobra saiu da sua toca! Está pronto, irmão?
Snake: Por que você me chama de irmão?! Que droga! Quem realmente é você?!
Liquid: Eu sou você!!! Eu sou a sua sombra!!!
Snake: O quê?!
Liquid: Pergunte ao nosso pai que você mesmo matou!!! Eu vou mandar você pro inferno pra se encontrar com ele!!!

Com o lança-mísseis adquirido no depósito de armas, Snake explode parte do helicóptero, que cai de uma altura absurda.

Liquid: Vamos, funcione!!! Snaaaaaaake!!!
Snake: Vejo você no Inferno, Liquid! Que vai cuidar da cremação.

Não é possível enxergar muito longe em razão da noite, da neblina e da neve, somente as chamas da explosão quando o helicóptero atinge o chão. Snake desce e, ao passar pelo campo aberto coberto pela neve, um tiro é disparado e acerta o chão pouco à frente de seu pé. Snake se esconde atrás uma elevação do solo. Seu Codec toca.

Otacon: Foi ela!!!
Snake: Wolf? A Sniper Wolf?
Otacon: Sim, com certeza!
Snake: Otacon, você parece feliz!
Otacon: Não... eu não estou, não...
Snake: Então está como?
Otacon: Snake, não a mate.
Snake: Ficou louco?
Otacon: Por favor, ela é uma boa pessoa. Você iria perceber se conversasse com ela.
Snake: Escute aqui, sua criança! Ela é uma assassina impiedosa.
Wolf: Eu consigo ver você perfeitamente daqui. Não disse? Eu nunca deixo minha presa escapar. Agora, você é meu.
Otacon: Não, Wolf, você não pode fazer isso.
Wolf: Não se coloque no meio de um lobo e sua presa!
Snake: Você é muito boa pra me acertar nessa tempestade.
Wolf: Viu? Mulheres naturalmente dão melhores soldados.
Otacon: Wolf, não faça isso.
Wolf: Snake, estou bem perto. Consegue sentir?
Snake: É um erro pra um atirador revelar sua posição.
Wolf: É mesmo? Bem, eu vou mandar minha carta de amor pra você: uma bala direto no seu coração.
Otacon: Snake, Wolf, por favor, não...
Wolf: Quieto! Não se intrometa!
Snake: Agora eu vou pagar o que eu devia pela Meryl!
Wolf: Vocês homens são fracos. Nunca terminam o que começam...

Wolf é atingida pelo rifle de Snake e cai. No meio da tempestade de neve, Snake ajoelha-se ao seu lado, diante da neve vermelha.

Wolf: Eu esperava por esse momento... sou uma atiradora. Esperar é meu trabalho. Nunca mexer um músculo, se concentrar...

Sniper Wolf tosse sangue.

Wolf: Foi um tiro no pulmão. Você não pode me salvar. Por favor, acabe comigo logo. Sou uma curda, sempre sonhei com um lugar de paz como esse.
Snake: Curda? Por isso a chamam de lobo.
Wolf: Eu nasci num campo de guerra. Tiros, sirenes, gritos... eram minhas canções de ninar. Caçados como se fôssemos cachorros todos os dias... dentro dos nossos abrigos destruídos. Era minha vida... A cada dia que eu acordava, via mais um amigo ou parente morto deitado ao meu lado. Eu olhava pro sol... rezava pra que o dia passasse logo. Os outros governos se cegavam diante da nossa miséria. Foi quando ele apareceu... meu herói... Saladin. Ele que me tirou daquele lugar.
Snake: Saladin? Você diz Big Boss?
Wolf: Tornei-me uma atiradora... escondida, vendo o mundo pela mira de um rifle. Aprendi a ver a guerra por fora, não por dentro, como observadora. Eu vi a brutalidade... a estupidez dos humanos pela mira do meu rifle. Eu me uni a esse grupo de revolucionários... pra me vingar desse mundo. Mas eu envergonhei meu povo e eu mesma. Não sou mais o lobo que costumava ser... em nome da vingança, vendi meu corpo, minha alma... Agora não sou nada mais do que um cachorro.
Snake: Lobos são animais nobres, não são cachorros. Em Yupik (32), lobo é "Kegluneq" e os Aleútes (33) referem-se a eles como "primos honráveis". Mercenários, eles chamam de Cachorros da Guerra (34). É verdade, estamos todos à venda por um preço ou por outro. Mas você é diferente... indomável, solitária... Você não é um cachorro, você é um lobo.
Wolf: Quem é você? Saladin?
Snake: Você poupou a vida da Meryl.
Wolf: Ela não era meu verdadeiro alvo, não mato por esporte.
Snake: Descanse. Você vai morrer com o orgulho do lobo que é.
Wolf: Finalmente entendi. Eu não esperava para matar, eu esperava que alguém me livrasse desse mundo. Alguém como você... um herói. Por favor, me liberte.

Snake levanta-se, aponta sua arma para Sniper Wolf. Otacon, cansado, corre para o lado dela enquanto ela estende o braço.

Otacon: Por quê? Eu a amava...
Snake: O que você quer?
Wolf: Minha arma, traga-a pra mim. Ela é parte de mim. Todos estão aqui agora. Por favor, herói, me liberte.

Otacon abraça Wolf a seu rifle e vira-se de costas, tampando as orelhas.

Otacon: Adeus...

Um tiro ecoa no silêncio. Otacon cai de joelhos sem conter as lágrimas. Snake coloca o lenço que ganhou de Otacon sobre o rosto de Sniper Wolf.

Otacon: O que está fazendo?
Snake: Devolvendo-o para sua dona. Não preciso de um lenço.
Otacon: Por quê?
Snake: Não tenho mais lágrimas pra chorar. Preciso chegar na base subterrânea. Falta pouco tempo.
Otacon: Eu sei.
Snake: Você precisa se proteger. Não confie em ninguém.
Otacon: Tudo bem...
Snake: Se eu não conseguir parar o Metal Gear, provavelmente esse local será bombardeado até sumir.
Otacon: Sim...
Snake: Pode ser que não nos vejamos novamente.
Otacon: Encontre-me pelo Codec. Quero continuar ajudando.
Snake: Você pode partir a qualquer momento. Comece de novo... um começo de uma nova vida.

Snake anda até base.

Otacon: Snaaaake?!
Snake: ...
Otacon: Pelo o que ela lutava? Pelo o que eu estou lutando? Pelo o que você está lutando?
Snake: Se sobrevivermos, vou saber dizer.
Otacon: Tudo bem, eu também vou continuar buscando.

Antes de entrar, Snake estranha ao ver um pára-quedas pendurado em um pinheiro por trás de um muro que limita o território da base. Dentro dela, Snake passa por um local de fusão de metais e segue descendo pelos elevadores de carga quando recebe um chamado.

Mestre: Snake, preciso lhe contar algumas coisas sobre a Doutora Naomi Hunter.
Snake: O quê?
Mestre: Esta ligação é segura?
Snake: Relaxe. O monitor está desligado.
Mestre: Certo.
Snake: O que foi?
Mestre: Eu fui do FBI também.
Snake: Não sabia disso. Onde quer chegar?
Mestre: Na história sobre os antepassados da Naomi. Sobre a história da Naomi ter um avô secretário assistente de Hoover no FBI...
Snake: E...
Mestre: E depois investigar secretamente a máfia em Nova Iorque...
Snake: O que é que tem?
Mestre: Era tudo uma grande mentira.
Snake: O que disse?!
Mestre: Isso estava me incomodando. Por que ela mentiria?
Snake: Ela mentiu?
Mestre: Ela deve ser uma espiã!
Snake: Ridículo!
Mestre: Ora! Até um estudante de ensino médio estuda história! A cabeça do FBI naquela época, Edgar Hoover, era muito bem conhecido por ser racista! Naomi não disse que o avô dela era japonês?
Snake: Disse...
Mestre: Naquela época, não havia sequer um investigador asiático. E também, nos anos cinqüenta, as operações de investigação da máfia por baixo do pano nem tinham começado. As primeiras foram em 1960... em Chicago, não em Nova Iorque!
Snake: Mas...
Mestre: É melhor você investigar. A morte inesperada do chefe e do presidente, aquele ninja... muitas coisas estranhas acontecendo ao mesmo tempo.
Snake: Você está dizendo que a Naomi pode estar por trás disso?
Mestre: Não sei. Ou isso ou ela está trabalhando para os terroristas.
Snake: Será?
Mestre: Se eu descobrir alguma coisa, entro em contato. Por enquanto, tome cuidado.

Ao chegar a docas muito frias, Snake tem uma "agradável" surpresa.

Raven: Bem-vindo, kasack! Chegou o fim da linha, certo meus amigos?

Os corvos começam a fazer barulho.

Raven: Viu? Eles concordam. Não são só devoradores de humanos como a maioria pensa. Eles só os fazem retornar ao mundo natural porque, nesse, não servem mais pra nada. Às vezes, também atacam raposas feridas.
Snake: Você era o cara do tanque de guerra, né? Coitado, deve ter ficado meio apertado para um gigante que nem você...
Raven: Hahahaha! Mas aquela não era uma batalha de verdade! Eu e os corvos estávamos o testando para ver que tipo de homem você é. E o julgamento foi decidido. Eles disseram que você é um guerreiro de verdade.
Snake: Estou tendo alucinações? Não consigo me mover...

Um corvo parece emanar da cabeça de Raven e pousar no ombro esquerdo de Snake.

Raven: O corvo colocou a marca da morte em você. O sangue oriental corre em suas veias. Seus ancestrais também cresceram nas planícies áridas da Mongólia. Os inuítes (35) e os japoneses são primos uns dos outros. Compartilhamos muitos ancestrais...
Snake: Não tenho nenhum corvo na minha árvore genealógica.
Raven: Continue zoando... corvos e cobras não são muito amigos. No entanto, você é um adversário que deve valer a pena. Você que também mora no Alasca, conhece as Olimpíadas Esquimó-Indígenas (36)?
Snake: Conheço. Você deve ser uma grande ameaça na disputa pra ver quem come mais Muk Tuk (37)...
Raven: Sim, mas tem uma outra que sou especialista, chama-se "Puxa-Orelhas". É uma modalidade em que dois oponentes puxam as orelhas um do outro. Testa a força física e espiritual no meio daquele frio.
Snake: Você quer brincar de puxar orelhas aqui?!
Raven: De forma diferente, mas com o mesmo espírito. Anime-se, Snake! A nossa batalha será gloriosa!
Snake: Isso não tem nada de glorioso. É só matança. Violência não é um esporte!
Raven: Vamos ver se suas palavras são mesmo tão fortes!

A batalha entre os dois homens começa no meio de muitos contêineres. Raven atira pra todos os lados com seu canhão Vulcan enfurecido na busca de Snake, que se esconde como pode. Snake consegue derrotar Raven atingindo-o por trás depois de muito pensar como pegá-lo. Caído, um corvo pousa no ombro de Raven enquanto Snake anda até ele.

Raven: Como o Chefe disse... minha existência não é mais necessária nesse mundo, mas meu corpo não vai permanecer aqui. Meu espírito e minha carne vão se unir aos corvos. Dessa forma, voltarei pra nossa Mãe Terra. Snake, meu espírito vai o seguir... entendeu? Você é uma cobra que não foi criada pela Natureza. Você e o chefe... vocês são de outro mundo, um mundo que não desejo conhecer. Duelem. Assistirei vocês lá de cima. Mas primeiro, vou lhe dar uma dica... O homem que você viu morrer diante dos seus olhos...

Snake se lembra do Chefe do DARPA tendo um ataque cardíaco.

Raven: ...não era o chefe do DARPA, era Decoy Octopus, um membro da FOX-HOUND, um mestre dos disfarces. Copiava as características das pessoas pelo sangue. Ele drenou o sangue do Donald e injetou nele mesmo. Só que ele não tinha como vencer o Anjo da Morte.
Snake: Anjo da Morte? Mas pra que tanto trabalho? Por que personificar o Chefe?
Raven: Minha dica termina aqui. O resto você precisa descobrir sozinho. No mundo natural, não existe nada pior do que um assassino sem limites. E ele sempre tem um fim, mas você é diferente.

Os corvos começam a comer o corpo de Raven. Snake dá as costas para a cena e começa a seguir em frente.

Snake: O que você quer dizer?
Raven: Que a estrada pela qual você caminha não tem fim. Cada passo seu está pavimentado com os corpos dos seus inimigos... essas almas vão sempre o assombrar. Você não vai ter paz... Ouça-me, Snake! Meu espírito vai o acompanhar!

Tudo o que resta de Raven é o canhão Vulcan. Snake continua caminhando e, finalmente, chega à impactante base onde o Metal Gear é mantido.

Um comentário:

Amanda N. disse...

Li até aqui, que foi até onde a gente viu. Moço, excellent job!! =)
Tô gostando de conhecer mais de MSG, e sei que vou gostar bastante!! Cada vez mais interessante! ^^
Beijão!!