domingo, 8 de junho de 2008

O céu era azul, mas não havia nenhum Deus

Após o final da Segunda Guerra Mundial, o mundo se dividiu em dois: Oriente e Ocidente. Esse foi o marco do início da era chamada Guerra Fria.


24 de Agosto de 1964, 5h30min. Espaço aéreo paquistanês.

Piloto:
Voando sobre o Paquistão. Altura: 30 mil pés. Nos aproximando do espaço aéreo soviético.

Na parte de trás do avião, Jack, um homem de cabelos loiros e compridos, está sentado num banco fumando um cigarro. Um auxiliar vestindo uma máscara o acompanha. Na cabine de comando, é possível ver os primeiros raios de sol. Junto ao piloto está um homem de cabelos grisalhos e uma jovem mulher.

Auxiliar: Vinte minutos para o salto. Iniciando despressurização interna. Checar equipamento. Armar pára-quedas principal.
Zero: Muito bem, está pronto para partir?
Piloto: A parte traseira ainda apresenta bastante pressão. Boas condições de visibilidade.
Zero: Ótimo.
Auxiliar: Jogue esse cigarro fora. Conecte a mangueira de oxigênio ao conector interno. Coloque sua máscara.

Jack não responde nenhuma vez.

Auxiliar: Esse babaca sabe mesmo o que está fazendo?
Piloto: Nos proximando do ponto combinado.
Auxiliar: Dez minutos para o salto.

Jack ignora novamente.

Zero: Ei, você está surdo?! Ele disse pra jogar esse cigarro fora e colocar sua máscara!

Dessa vez, Jack obedece. O cigarro, ainda acesso rola para a porta traseira do avião.

Piloto: Despressurização completa. Checando reserva de oxigênio.
Auxiliar: Seis minutos para o salto. Abrindo a porta traseira.

A porta se abre. Jack olha para a luz ofuscante.

Auxiliar: Luz do sol... Temperatura externa de menos 46 graus Celsius. Dois minutos para o salto. Levante-se.

Jack se levanta e caminha para a ponta do avião.

Zero: Você vai cair a 200 km/h. Tente não virar sorvete com o vento.
Auxiliar: Um minuto para o salto. Direcione-se para a porta traseira. Ative o tubo de oxigênio.
Zero: Esse é para os livros de história: o primeiro salto em queda livre do mundo.

Jack pisa sobre o próprio cigarro e chega na posição certa.

Auxiliar: Dez segundos para saltar. Posicione-se. Status ok, sem problemas. Prepare-se para saltar. Contagem: 5, 4, 3, 2, 1...
Zero: Bata suas asas e voe! Que Deus o acompanhe!

Jack pula do avião. Após algumas cambalhotas no ar, Jack se coloca de cabeça para baixo em direção ao chão... Cenas da apresentação da missão passam pela cabeça de Jack.

Zero: Jack, trago uma notícia importante. O chefe da CIA finalmente nos deu sinal verde para a Missão Virtuosa.
Jack: Missão Virtual?
Zero: Não, Missão Virtuosa. O futuro da nossa unidade FOX depende dela. Se for bem sucedida, seremos oficialmente organizados dentro de uma unidade oficial.
Jack: Missão Virtuosa? Soa como uma espécie de ritual de iniciação.
Zero: Não fique tão confiante. Isso não é uma operação de treinamento.
Jack: Certo. E o que é bem essa maravilhosa missão?
Zero: Bem... Mais ou menos dois anos atrás, um certo cientista soviético solicitou asilo no Ocidente através de um de nossos contatos. Seu nome é Nikolai Stepanovich Sokolov. Ele é o chefe da Agência de Design OKB-754, uma das unidades de pesquisa de armas secretas da União Soviética e o homem mais conceituado do Oriente no desenvolvimento de armas.
Jack: Sokolov... Não é o famoso cientista de foguetes?
Zero: O próprio. Em 12 de Abril de 1961, os soviéticos realizaram o primeiro vôo no espaço da história.
Jack: O céu era azul, mas não havia nenhum Deus.
Zero: Muito bem colocado. O foguete que levava Yuri Gagarin (84) em órbita era o A1, conhecido como foguete Vostok. Sokolov é conhecido por ser o maior responsável pelo bloco de vários motores utilizado naquele foguete. Depois do vôo de Gagarin, Sokolov abandonou o desenvolvimento de foguetes para ser chefe da recém construída Unidade de Design.
Jack: De pequeno técnico a chefe da unidade, é uma grande história de sucesso. Por que ele quis desertar?
Zero: Parece que começou a temer suas próprias criações.
Jack: Temer?
Zero: Entenda como peso na consciência.
Jack: E, por isso, deixou seu país e sua família pra trás e resolveu atravessar o muro?
Zero: Não exatamente. Uma das condições era que sua família também chegasse segura ao Ocidente. Usamos um espião para trazer a família primeiro e fomos bem sucedidos em acobertar a passagem de Sokolov pelo Muro de Berlim logo depois. Fui eu quem conduzi a operação.
Jack: A segurança do Oriente ainda era cheia de buracos naquela época... E então?
Zero: Trouxemos Sokolov são e salvo, mas a experiência o deixou exausto e o internamos num hospital da Berlim Ocidental. Foram duas semanas e quase mil quilômetros para trazê-lo da unidade de pesquisa até Berlim. Ele estava sem condições de dizer qualquer coisa coerente. E, apenas uma semana depois, um problema ainda maior caiu em nossas mãos.
Jack: A Crise dos Mísseis de Cuba.
Zero: 16 de Outubro de 1962. O Presidente Kennedy (85) recebeu um alerta de que os soviéticos estavam num processo de desenvolvimento de mísseis balísticos de médio alcance em Cuba. O presidente ordenou que os soviéticos desmontassem e retirassem os mísseis. Ao mesmo tempo, ele anunciou um bloqueio naval para prevenir que mais embarcações com mísseis chegassem à Cuba. Mas os soviéticos não recuaram e, ao invés disso, colocaram suas forças armadas em alerta secundário. Os navios soviéticos de transporte de mísseis continuaram direcionados à Cuba. As forças americanas e soviéticas entraram em alerta para uma guerra nuclear geral. As tensas negociações foram conduzidas através do Conselho de Segurança Emergencial das Nações Unidas e dos canais não oficiais para acabar com o impasse. Finalmente, em 28 de outubro, a União Soviética concordou em remover os mísseis de Cuba e o mundo evitou um holocausto nuclear. Mas, para que os soviéticos retirassem seus mísseis, tivemos que fechar um acordo.
Jack: Você fala do qual os Estados Unidos tiveram que retirar seus IRBMs (86) da Turquia?
Zero: Não. Os IRBMs Jupiter deixados na Turquia eram obsoletos e íamos nos livrar deles mesmo: não tinham valor estratégico nem pros Estados Unidos e nem pra Rússia. O Tratado da Turquia foi um artifício, uma história usada para alimentar outras agências de inteligência ao redor do mundo.
Jack: Então, o que os russos realmente queriam?
Zero: Sokolov. Eles queriam que devolvêssemos Sokolov.
Jack: Você está me dizendo que os russos só tiraram os mísseis de Cuba para colocar as mãos de volta no Sokolov?
Zero: Exatamente.
Jack: Em que tipo de coisa ele estava trabalhando?!
Zero: Na época, não tínhamos idéia. Estávamos sem tempo: ou desistíamos do Sokolov ou arriscávamos uma grande guerra nuclear. No fim, não tivemos escolha. O presidente Kennedy cedeu diante da demanda de Khrushchev (87). No dia seguinte, tirei Sokolov do hospital e o entreguei nas mãos dos agentes do lado oriental. Sokolov continuou gritando “socorro” até desaparecer da minha vista. Então, há um mês, recebemos novas informações de um de nossos contatos.
Jack: Sobre Sokolov?
Zero: Sim. Ele foi levado novamente à unidade de pesquisa e forçado a continuar o trabalho na arma em questão sob a supervisão da KGB (88). E mais, está quase terminando.
Jack: Então, que tipo de arma é essa? Alguma coisa relacionada a foguetes?
Zero: Não, mísseis.
Jack: Mesma tecnologia.
Zero: Acredito que você esteja certo. Não temos os detalhes mas parece ser um novo tipo de dispositivo nuclear. Por um ano, os soviéticos vêm conduzindo testes nucleares freqüentes em Semipalatinsk (89).
Jack: Algo a ver com a nova arma, imagino.
Zero: Estamos falando de uma arma secreta tão poderosa que Khrushchev se dispôs a tirar os mísseis de Cuba.
Jack: O Sokolov ainda está na unidade?
Zero: De acordo com a nossa inteligência, ele está em Tselinoyarsk, um local nas montanhas cinco quilômetros ao oeste, também conhecido como Rochas Virgens.
Jack: Rochas Virgens. Bom nome para uma missão virtuosa.
Zero: Levaram-no pra lá recentemente.
Jack: Por quê?
Zero: Aparentemente, estão conduzindo um teste de campo da arma, mas é a nossa melhor chance de trazê-lo de volta. A missão nunca seria possível se ele ainda estivesse na unidade de pesquisa. Essa é nossa última chance. Sokolov também devia estar ciente disso quando nos contatou.

Jack continua caindo. Zero dá instruções via rádio.

Zero: Ouça, Jack. Sua missão é se infiltrar em Tselinoyarsk nas montanhas soviéticas, assegurar a segurança de Sokolov e trazê-lo de volta para o Ocidente. Se não trouxermos Sokolov antes do término dessa arma, enfrentaremos uma crise ainda maior. O tempo é curto.

Jack puxa a corda do seu pára-quedas.

Zero: Assim que tivermos a confirmação do resgate do Sokolov, se dirija ao ponto de retorno. Um balão de resgate será jogado. Gás Hélio será injetado no balão para inflá-lo. O processo dura uns 20 minutos. Assim que terminar, o braço do avião vai puxá-lo.
Jack: O Sistema de Recuperação Superfície-Ar de Fulton (90). Conheço a teoria.
Zero: Relaxe, já foi aprovado em combate.
Jack: Você acha que Sokolov topa?
Zero: O choque será menor do que o de um pulo de pára-quedas. E a asa agüenta até 220 quilos.
Jack: E você pretende cruzar a fronteira num simples avião de combate?
Zero: Está equipado com seis barris de canhões Vulcan de 20 milímetros e duas metralhadoras de 40 milímetros.
Jack: Parece que dá pra agüentar um batalhão de tanques...
Zero: Mesmo com o tanque reserva cheio, enfrentamos um limite de 4 horas. Se tudo der certo, não deve levar mais do que algumas horas.
Jack: Em casa para o jantar.

No avião, a Paramédica e o Major Zero se entreolham.

Zero: Mas se algo der errado, você terá que jantar, tomar café e fazer todas outras refeições na selva...

Um comentário:

Amanda N. disse...

E mais uma saga se inicia!!
Gosto de MGS, mostra uma história muito rica, um lado da história que eu acho muito interessante.
Ótimo trabalho, moço!!
=)