sábado, 5 de maio de 2012

Quando ele vai voltar?

O Nômade está estacionado numa larga e extensa pista de aeroporto. Sua porta traseira está aberta e um enorme tapete vermelho cobre desde seu interior até a saída. Dentro dele, Mei Ling termina de arrumar a noiva Meryl fazendo um coque em seu cabelo, vestindo-a com um longo vestido branco sem ombreiras e com brincos em formato de balas. Pelo espelho que está voltado para a saída do Nômade, as duas observam a aproximação de Roy Campbell.

Mei Ling: Você está maravilhosa!
Campbell: Parabéns.
Meryl: Coronel.

Meryl vira de frente para Campbell e aponta sua pistola contra ele. Ele, respondendo ao gesto, segura o canhão da arma e o pulso de Meryl e os colocam contra seu próprio queixo. Meryl retira o pente de balas e abaixa a pistola. Ela ainda tem o olhar ressentido...

Meryl: Você... vai me levar por aquele corredor.
Campbell: Você não está mais brava?
Meryl: Ah, eu ainda estou chateada, mas agora... você tem a chance de me reconquistar.
Campbell: Tem razão. Temos muito tempo agora. Meryl... você está linda.

Mei Ling não contém o choro e entrega o buquê de rosas brancas a Campbell. Meryl e ele andam de mãos dadas até a saída do Nômade. Passando pela porta, são recepcionados por Otacon, Ed, Jonathan, Sunny e Mei Ling, que corre na frente dos dois para não perder a cena.

Ed: É agora! Você vai fazê-la muito feliz!
Johnny: Eu espero...

Todos os aplaudem enquanto Johnny permanece de costas para não ver a noiva. Assim que Johnny se vira, Campbell entrega a mão de Meryl a ele. Ed conduz a cerimônia.

Ed: Queridos! Estamos juntos aqui hoje para unir essas duas pessoas em matrimônio sagrado. Vamos saudá-los pela vida que em breve partilharão e rezar para que se amem eternamente. Agora, vamos mandar essa nova equipe para sua primeira missão.
Meryl: ...
Johnny: ...
Ed: Ei! Vamos, Johnny... você sabe...

Johnny, sem jeito e meio atrapalhado, segura as mãos de Meryl. No momento que seus lábios vão se encostar, todos se assustam com a chegada de Drebin em seu tanque, freando e derrapando pela pista quase atropelando todos.

Drebin: Bem a tempo!
Otacon: Drebin...
Drebin: E eu trouxe presentes! Uma chuva de flores! Cortesia do Drebins! E uma coisinha a mais ainda!

O tanque de Drebin muda de camuflagem, fica inteiramente branco e seu letreiro mostra as palavras "Drebins Flores". Ao abrir a porta traseira, uma chuva de pétalas brancas voa sobre todos na ocasião especial. Ele ainda estala os dedos e pombas brancas passam sobrevoando o local denotando paz. Enquanto todos se deslumbram com a visão que Drebin proporcionou, Sunny olha para um garotinho, morador do local, que passava com uma vara de pescar na mão. Os dois acenam um para o outro. Johnny também aproveita para finalmente beijar Meryl chamando a atenção de todos. Meryl, sorridente, resolve jogar o buquê de rosas para o alto, mas Mei Ling... o perde para o macaco de Drebin que pula na sua frente! Indignada, ele procura disfarçar e começa uma conversa com Otacon.

Mei Ling: Onde está o Snake?
Otacon: Sei lá... Esse cara sempre me deixa esperando...
Mei Ling: Sunny, vamos.

Otacon parece esconder alguma coisa. Mei Ling então chama Sunny para brincar e Campbell, ao olhar toda a cena, em paz, agradece Snake por finalmente alcançarem seus objetivos.

Campbell: Obrigado, Snake...


Ao mesmo tempo em que ocorre o casamento no aeroporto, num hospital, Rosemary, acompanhada de um pequeno garoto de cabelos loiros e arrepiados, vai visitar Jack. Ele já não tem mais um corpo mecânico. De costas, é possível perceber duas enormes cicatrizes que rasgam desde suas costas até os seus dois ombros. Felizmente, Jack teve seus braços de humano reimplantados com sucesso e se recupera das complicadas cirurgias. Mas ainda com a cabeça cheia de dúvidas, ele mal olha para Rose: só a vê através de um espelho na cabeceira de sua cama.

Rose: Jack, como está se sentindo? Se importa se eu sentar?
Raiden: ...
Rose: Jack, não me deixe falando sozinha. Você precisa me ouvir.
Raiden: O que você quer? Veio rir de mim?
Rose: Não! Olhe pra cá. Olhe para o menino.
Raiden: Lindo. Filho do Campbell?
Rose: Não, ele é seu!
Raiden: Eu não tenho filhos.
Rose: Ele é seu filho!
Raiden: Você disse que tinha perdido...
Rose: Eu menti... eu tive um menino lindo, saudável... o Roy só fingiu ser meu marido pra me proteger e... proteger nosso filho. Pelo menos até você completar sua missão. Para nos proteger dos olhos dos Patriotas.
Raiden: O quê?
Rose: Ele não contou nem para a Meryl. Sacrificou tudo, até a própria família... para nos proteger.
Raiden: Não consigo acreditar...
Rose: Me desculpe, Jack, eu queria ter contado...
Raiden: Então ele é meu filho de verdade?
Rose: John, você não vai dizer "oi"?
Raiden: Meu filho... John.
John: ...
Raiden: Com medo de mim, né? Não culpo você... tudo bem...
John: Não... não estou com medo... eu acho você legal! Parece herói de gibi!
Rose: John!
Raiden: Rose, cansei de fugir.
Rose: E eu não estou mais com medo.
Raiden: Nunca mais vou deixar você. Como no conto da Bela e a Fera.
Rose: Não fale assim... você não é um monstro, você é o meu marido. E o pai do John. E eu vou fazer o que puder para ser a mulher e a mãe que essa família merece.


Jack se esforça um pouco, mas abraça Rose e John. Enquanto isso, Snake está no mesmo cemitério onde conversava com Otacon sobre sua doença, em frente ao túmulo de Gray Fox, depois de estranhamente reparar sobre as flores brancas deixadas recentemente no túmulo ao lado. Ele acende um último cigarro e reflete sobre tudo.

Snake: A guerra mudou. A nossa era se passou. A nossa guerra acabou. Mas ainda há uma coisa a ser feita... Uma última punição que devo pagar. Apagar meus genes... Sumir com este meme da face da Terra. Esta... é minha última missão.

Snake então se ajoelha em frente ao túmulo de Gray Fox, pega uma pistola e a carrega com somente uma bala. Lentamente, ele volta o cano da arma para sua própria boca e segura o gatilho com os polegares... e um tiro ecoa em meio ao cantar dos pássaros...


No aeroporto, Otacon e Drebin conversam sentados em cadeiras à beira da pista. Drebin bebe um champanhe no gargalo e parece um pouco fora de si.

Drebin: Nada bate uma bebida mais forte, né?
Otacon: Não sabia que você bebia. Pensei que fosse só refrigerante.
Drebin: Não que eu esteja acostumado. Mas é que o refrigerante combinava melhor com os nanomachines... Os nanomachines quebravam o álcool antes de você ter a chance de ficar bêbado...
Otacon: Está explicado: não precisa mais se conter então...
Drebin: Exato! Bem, nem tudo são flores... Uma galera perdeu totalmente a noção da própria existência no momento que o SOP ficou offline.
Otacon: Está falando da Síndrome SOP? Ouvi dizer que muitos deles estão sofrendo abstinência...
Drebin: Pois é. O SOP mantinha muito mais do que o álcool sob controle. Os coitados ficaram completamente pelados agora...
Otacon: Ouvi dizer que mais de dez por cento tem apresentado sintomas. Estou começando a achar que se livrar dos Patriotas não vai resolver todos os problemas da noite pro dia.
Drebin: Acho que você provavelmente suspeitava disso, mas... eu não era um empregado da AT Security.
Otacon: Ãhn?
Drebin: Foram os Patriotas que me criaram para ser um lavador de armas.
Otacon: Os Patriotas?
Drebin: As minhas lembranças mais longínquas são do LRA (156)... Me seqüestraram e me forçaram a lutar.
Otacon: ...
Drebin: Sim, você está olhando para um cara que já foi guerreiro quando criança. Meus pais e meus irmãos foram todos mortos na guerra: o que vocês chamam de órfão de guerra.
Otacon: ...
Drebin: Depois disso, os Patriotas me pegaram e me trouxeram para a família de negócios. Eu era o Drebin 893, mas existia um monte de fantoches como eu ao redor do mundo. Como você acha que eu lavava as armas daquele jeito? Porque eles me permitiam. De fato, minhas ordens eram dar suporte a vocês desde o começo.
Otacon: Como é que é?!
Drebin: Calma, cara... Não leve para o pessoal. Eu não era o único sob as ordens deles...

Drebin sinaliza com a cabeça apontando para Meryl, Johnny, Ed e Jonathan.

Otacon: Ãhn? A Meryl e...
Drebin: Provavelmente, nunca perceberam também, mas... Rat Patrol Team 01... Voilá!

Drebin escreve com um giz no asfalto o nome "RAT PT 01" e, num passe de mágica, ao passar o seu lenço por cima das letras, elas são reorganizadas formando a palavra "PATR10T".

Otacon: Patriotas!
Drebin: Dançaram conforme a música...
Otacon: Mas... por quê?
Drebin: O plano do Liquid era uma ameaça óbvia aos Patriotas. Então, eles armaram para que vocês tomassem conta dele.
Otacon: Não saiu bem como planejaram, não?
Drebin: É, bem... acho que não esperavam que vocês quebrassem o Sistema e os eliminassem.
Otacon: E isso significa que você está desempregado agora?
Drebin: Está me tirando? Eu tenho o Drebins! E todos os Drebins do mundo estão bem! De agora em diante, cada um tem o seu negócio! Não somos mais comandados!
Otacon: Calma aí...
Drebin: A Casa Branca deve ter perdido seu gosto pelo unilateralismo... começou a reconstruir. Mas existe um monte de estados falidos por aí que quebraram por causa dos maus hábitos de suas PMCs... e elas possuem uma puta grana! Agora a única questão é: quem vai pagar a conta? Tenho certeza que esses novos governos vão tentar mantê-las sob controle com a reforma nas leis das PMCs, mas não vai ser o suficiente: eles afundaram por causa da economia da guerra. Podemos não ter uma nova ordem mundial, mas a velha ordem sob a economia da guerra se foi pra sempre. Eu acho que a ONU vai ser mais importante do que nunca, com o multilateralismo e tudo. Um certo presidente já disse durante a Guerra Fria: "É no desenvolvimento dessa organização que está a verdadeira alternativa contra a guerra." E, de novo, a ONU é uma velha relíquia como no século 20. Se pensar bem, quando você olha para a história... não é assim tão diferente dos Patriotas.
Otacon: É verdade: os nanomachines costumavam deixar você sóbrio... 
Drebin: Chocar. Misturar. Queimar. Repetir.
Sunny: Ei, tio Hal, posso dar o Mk.III pra ele?
Otacon: Ãhn?

Sunny corre para contar a Otacon sobre o menino para quem ela acenava alguns momentos atrás.

Sunny: Ele é meu novo amiguinho! E mora aqui perto. A gente não entende a língua do outro, mas está legal! Ele é meu primeiro amigo aqui fora...
Otacon: Mesmo? Que bom, Sunny...
Sunny: ...
Otacon: Tudo bem se você quiser viver fora do Nômade agora. É a sua vida. Existem outros paraísos pelo mundo.

Otacon, ainda um pouco receoso por se preocupar demais com ela, deixa a escolha de onde devem viver sob decisão da Sunny. Ela, pensativa sob as palavras de Otacon, começa a observar o pôr-do-sol.

Sunny: O sol está tão bonito.
Otacon: Sunny...
Sunny: Gostei daqui de fora.
Otacon: ... 
Sunny: Tio Hal, quando o Snake vai voltar?
Otacon: O Snake está doente... e viajou para um lugar onde vai melhorar.
Sunny: A gente não vai com ele?
Otacon: Não... ele precisa ir sozinho...
Sunny: Queria saber quando a gente vai vê-lo de novo.

Otacon, já sabendo da decisão do amigo e de que nunca mais vai vê-lo novamente, vira de costas para a Sunny, tira seus óculos e começa a chorar.

Otacon: O Snake... teve uma vida difícil... Ele precisa de um tempo para descansar...
Sunny: Você está... chorando, Tio Hal?
Otacon: Não... eu não estou chorando...

Otacon seca as lágrimas e coloca seus óculos de qualquer jeito. Ao virar para a Sunny novamente, ela acha graça dos óculos tortos e começa a rir dele. Otacon então devolve o sorriso e os dois observam o sol se por...

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