sábado, 21 de abril de 2012

Nostalgia

Snake acorda assustado lembrando-se da primeira vez que foi à Ilha de Shadow Moses.

Otacon: Tudo bem, Snake?
Snake: Estava sonhando com aquilo de novo.
Otacon: Chegamos. Shadow Moses.

Snake está na parte de trás do helicóptero enquanto Otacon pilota. Do alto, é possível enxergar a floresta de pinheiros coberta de neve. No meio da tempestade, Otacon aproxima helicóptero o máximo do chão possível e Snake pula, mas cai de mau jeito e sente fortes dores nas costas. Além disso, o Mk.III cai no chão de qualquer jeito...

Otacon: Snake! Tá tudo bem?
Snake: Sim, foi só uma escorregadinha... tenho que correr... não temos muito tempo.
Otacon: E o Mk.III? É nosso último substituto! Então tente não quebrar...
Snake: Quem? Eu? Nunca!
Otacon: Mais uma coisa... Eu não vejo ninguém por perto, mas deve haver máquinas vigiando essa área, fique esperto. O heliporto está a oeste.


Snake pega o Mk.III e o coloca em pé novamente. Ao seguir para oeste, Snake passa pelo meio de duas montanhas cobertas de neve e finalmente chega ao heliporto. As memórias do passado são inevitáveis.

Snake: Um Hind D? Coronel, o que um helicóptero militar russo está fazendo aqui?
Mei Ling: Uau! Precisa ser muito louco pra pilotar um Hind nesta tempestade!
Snake: Quem é essa?
Mei Ling: É prazer conhecê-lo, Snake! É uma honra falar com uma lenda viva como você!
Snake: ...
Mei Ling: Alguma coisa errada?


Snake passa pelo centro do heliporto, visita o elevador por onde passou da primeira vez...

Snake: Estou em frente ao prédio do depósito.
Campbell: Excelente. Continua rápido mesmo mais velho!
Naomi: O traje térmico está funcionando bem?
Snake: Estou seco e quente, mas é meio difícil de me mexer.
Naomi: Melhor se acostumar. Foi desenvolvido para prevenir hipotermia. Afinal, você está no Alasca...

Subitamente, Otacon interrompe seus pensamentos.

Otacon: Parece que a porta da frente do hangar está meio aberta. Dá pra entrar por ela se quiser.

Snake entra pela porta e toma cuidado com alguns escaravelhos que patrulham a área.

Meryl: Ahá! Você é o Solid Snake? O lendário Solid Snake? Você?!
Snake: Relaxe. Você vai voltar ao chão assim que me conhecer. Creio que a realidade não corresponda à lenda.

Mais à frente, ele chega ao campo onde Vulcan Raven o confrontou pela primeira vez.


Gray Fox: Snake, cuidado. Há minas ao seu redor.
Snake: Quem é você?
Gray Fox: Um de seus fãs.

Ele cruza o campo e chega ao depósito de armas, Snake pergunta sobre o caminho que deve seguir.

Snake: Otacon, daquela vez tivemos uns problemas passando pela sala do comandante no subsolo.
Otacon: Verdade... Eu lembro. Mas não precisamos passar por lá dessa vez, certo? A porta à frente dá exatamente onde precisamos.
Snake: Bom sinal.
Otacon: Certo. Siga pela porta.

Mas ao chegar à porta, o Mk.III tenta abri-la... sem sucesso.

Otacon: Snake, a porta está trancada...
Snake: Como a abrimos?
Otacon: O sistema de segurança foi todo desligado. Não dá pra destrancar as portas sem ligá-lo. É preciso logar primeiro. Meu escritório é pertinho. Com a energia ligada, podemos destravá-la. E se checarmos os registros do depósito, podemos descobrir quem entrou e saiu e qual o status do Rex. Você se lembra onde é, Snake?
Snake: Ainda não estou gagá.
Otacon: Só pra garantir, marquei no seu mapa, seu velho. Snake, verifiquei a unidade de energia auxiliar e liguei o gerador. A corrente é baixa, mas deve ser suficiente para o elevador funcionar. Tente ir por ele e veja se funciona.

Snake começa a tossir demais, mas segue seu caminho para o segundo andar do subsolo.

Otacon: Certo, vamos pelo corredor central. Não se preocupe, não está mais eletrificado.
Snake: ...
Otacon: Tudo está exatamente como eu me lembro. Exceto aquele muro ali no fundo. Ainda não acredito como você causou tanta destruição num espaço tão pequeno.
Snake: O interruptor foi destruído por um míssil de controle remoto para desligar a corrente elétrica. O sistema de vigilância tomava tanto espaço que quase não cabiam explosivos...
Otacon: Não fariam nada além de um barulhinho, né?
Snake: Dificilmente. O painel ficou intacto...
Otacon: Tem razão. Os circuitos e as grades ainda podem estar ativos...
Snake: Espera aí... eu não vou tomar um choque se eu andar aqui, né?
Otacon: Não se preocupe, é só não ligar a corrente de novo!

Snake chega ao laboratório do Otacon.

Gray Fox: Estava esperando por você, Snake.
Snake: Quem é você?
Gray Fox: Nem amigo, nem inimigo.
Snake: Coronel! Aquele ninja... era Gray Fox!!! Sem dúvida!!!
Campbell: Ridículo! Você mesmo... em Zanzibar!
Naomi: Não. Ele deveria estar morto, mas não está.
Campbell: O quê?
Naomi: Estavam usando um soldado para as experiências de terapia genética...

Otacon interrompe seus pensamentos novamente.

Otacon: Espere um pouco, quero checar a segurança.


Snake olha para o armário onde Otacon se escondeu de Gray Fox há nove anos, e se lembra de como se conheceram.

Snake: Por quanto tempo vai ficar aí?
Otacon: Huh? Você é um deles?
Snake: Não. Eu trabalho sozinho.
Otacon: Sozinho? Você é um Otaku também?


Snake começa a tossir novamente e ter lapsos como os que Naomi e os soldados tiveram. Ele coloca o Mk.III de lado para Otacon não o enxergar e injeta uma seringa em seu pescoço para melhorar rapidamente. Ele volta a colocar o Mk.III de pé.

Otacon: Tá tudo bem? Snake, você está bem?!

Otacon mexe nos computadores da sala e todos se ligam: os da mesa dele e os supercomputadores que ficavam na parte de trás. A sala fica toda iluminada como nove anos atrás. Snake passeia pela sala olhando para todos os cantos, nostalgicamente.

Otacon: Essa versão está totalmente obsoleta. Vai dar um pouco de trabalho.
Snake: ...
Otacon: Essa foi a sala onde nos encontramos a primeira vez...
Snake: Sim...
Otacon: Não o traz memórias ruins, traz?
Snake: Huh...
Otacon: O Frank Jaeger estava me atacando.
Snake: Sim... eu lembro.
Otacon: Se você não tivesse aparecido... me dá arrepios só de pensar. Snake, você salvou minha vida.
Snake: A Naomi os odiava pelo o que fizeram com o corpo dele... mas fui eu quem o deixou daquele jeito primeiro. Ela devia me odiar também.
Otacon: Não deveríamos ter confiado tanto nela. Eu me culpo também por ter ajudado a desenvolver o Rex, por isso foi fácil acreditar que os sentimentos dela eram verdadeiros, mas ela só estava nos usando para consertar seus próprios erros.
Snake: E daí? O que ela fez?
Otacon: Já se esqueceu? Ela traiu você! Roubou o seu sangue!
Snake: Não. Se isso fosse tudo, teria acabado na América do Sul. Por que ela se juntou a nós depois disso?
Otacon: Bem, eu...
Snake: Ela fez com que a resgatássemos e depois voltou para o Liquid. Por que ela faria isso?
Otacon: Eu não sei, Snake... mas parece que ainda está com ele.
Snake: O quê?
Otacon: Acabei de verificar os registros de segurança... como eu pensava, tem gente entrando e saindo em intervalos freqüentes. De fato, as gravações mostram atividades recentes. Veja isso.
Snake: ...
Otacon: É uma gravação de uma câmera de vigilância de algumas horas atrás.
Snake: Naomi.
Otacon: E o Vamp.
Snake: A bela e a fera.
Otacon: Estão por aqui. Pelo o que entendo das gravações, só posso concluir uma coisa: estão indo pra velha base subterrânea do Rex.
Snake: ...
Otacon: Já terminei de reiniciar a segurança e abrir as portas. A porta do primeiro andar já deve estar funcionando.
Snake: Ótimo. Chego até a sentir falta de quando precisávamos de um cartão para cada porta.
Otacon: É... foram-se nove anos. Tudo o que fizemos foi reinterpretar a tecnologia antiga em termos da nova. Envelhecer até que não é tão ruim, não é?
Snake: ...
Otacon: Vamos, Snake.

Snake deixa o laboratório e parte em direção à porta trancada no depósito de armas no primeiro andar. Ao passar por ela, Snake chega ao campo no meio da base onde enfrentou Sniper Wolf.

Meryl: Snake... Deixe-me e fuja...
Snake: Meryl...
Meryl: A guerra é feia... não tem nenhum glamor. Snake, por favor, se salve. Siga sua vida ajudando as pessoas. Não se esqueça de mim...


Seus pensamentos dessa vez são cortados ao ouvir uma respiração ofegante de longe. Ele reconhece a criatura mecânica de quatro patas que ajudou a dizimar os rebeldes no Oriente Médio. Crying Wolf, ao abrir sua armadura, mostra que carrega um canhão elétrico, como o de Fortune no incidente da Big Shell. Ela atira perto de Snake, que pula para desviar e cai de mau jeito. Ainda assim, ele rola para desviar de duas árvores que caem em sua direção atingidas pelo tiro do canhão. Snake se esconde como pode...

Crying Wolf: Snake... encontrei você. Chore por mim. Vamos! Quero ouvir o seu choro! Mostre suas lágrimas, deixem-nas escorrerem. Chore... até chorar sangue!

Depois de muito se esconder, Snake finalmente a atinge por dentro de sua armadura mecânica e ela cai, sem sua máscara, revelando ser uma linda mulher. Ela senta no chão e tampa os ouvidos enquanto seu comportamento alterna entre culpa e agressividade.

Crying Wolf: Triste... Tão triste... Muito, muito triste... É tão triste saber que posso morrer!!! Eu os ouço... eu ouço os choros dos bebês... Parem de chorar!!! Por favor!!! Parem de corar, por favor... Não, lobo... vá embora... não se aproxime...

Ela parece enxergar um lobo se aproximar, mas não há nada por perto. Crying Wolf chora incontrolavelmente.

Crying Wolf: Me desculpe, estava tão assustada... Me perdoe, eu sinto muito. Você pode chorar também. Chore se precisar. Não... eu não preciso mais de lágrimas. Já chorei o que tinha pra chorar. Então, chore você... o quanto quiser... Eu vou estar aqui pra ouvir.

Ela, sem mais choro, sem mais culpa, começa a caminhar em direção a Snake. Seu comportamento é assustador. Antes que ela faça algo, Snake a derruba no chão inconsciente.

Drebin: E aí, Snake? Vou lavar esse canhão elétrico que você acabou de pegar. Deixe comigo, é por conta da casa.
Snake: Obrigado.
Drebin: Pronto pra mais uma história antes de dormir, Snake? Essa é sobre a Crying Wolf. Não preciso explicar que existem nações inteiras na África se desmanchando por causa de conflitos étnicos, precisa? Bem, ela nasceu nesse ambiente.
Quando era pequena, a vila onde morava foi atacada por facções armadas rivais. Seus parentes e amigos foram massacrados, mas ela conseguiu fugir da zona de guerra para o mais longe possível carregando seu irmão ainda bebê. Um dia, uma unidade inimiga estava por perto, então ela se escondeu numa cabaninha abandonada, mas seu irmão começou a chorar... Ela sabia que se os soldados ouvissem o choro, eles os matariam. Então, ela colocou as mãos na boca do bebê o mais forte possível para que não os ouvissem. À medida que o som dos passos se afastavam, ela voltava a si. O irmão dela não chorava mais. Horrorizada, ela tirou sua mão coberta de suor e de saliva. O bebê já não respirava.
Dizem que os lobos comem seus próprios filhotes quando morrem. Ela foi vista carregando seu irmão morto nos braços por perto das batalhas. E ela sempre enxergava um lobo andando com ela. Toda noite, o lobo uivava e chorava do mesmo jeito que o seu irmão aquele dia. Finalmente, ela chegou num abrigo pra refugiados mantido pelo governo. Mas o corpo do bebê já tinha apodrecido. O abrigo estava cheio de crianças e de bebês. Dia e noite, o choro dos bebês a atormentava. O lobo que a acompanhava ouvia o quanto ela gritava por dentro e resolveu dar uma resposta: chegou ao campo e silenciou as crianças enquanto ela tentava o parar, mas sem o menor poder...
Alguns dias se passaram e, na véspera de um ataque inimigo surpresa, não haviam mais crianças. Os adultos que sobreviveram ficaram todos atormentados. Claro que nunca houve lobo nenhum nesse campo. Ela que havia matado os bebês e se recusado a admitir. Ela não consegue acreditar que matou um por um uivando como um lobo. E nunca matou, mesmo sendo a Crying Wolf, uma fera solitária presa num campo de batalha...
Snake, lutar com você fez a Wolf finalmente perceber o que causou. E a mente dela descansou... Se o choro das crianças que ela ouvia silenciaram, foi por sua causa. Você devia se orgulhar. Cuidou de três, falta só a Mantis. Mas uma coisa você precisa saber, Snake... A Mantis controlava todas as B&Fs. Ela é o monstro dos monstros. Não a deixe fazer isso com você.
Snake: Não vou.
Drebin: Vejo você por aí, Snake.

O Mk.III destrava a porta que leva ao local onde derretiam os metais. O robô vira-se para olhar Crying Wolf deitada em posição fetal.

Otacon: Bem vinda à sua casa... Wolf.


Um lobo se aproxima de Crying Wolf e a fareja. O lobo, uivando, parece perceber a dor que ela carregava; coloca sua cabeça por baixo do corpo, quase furando a neve e passa por baixo. O lobo faz força, se levanta com o corpo de Crying Wolf sobre ele e a leva embora. Não se sabe pra onde, mas, Snake e Otacon, de certa forma, sabem a resposta...

Otacon: Snaaaake?!
Snake: ...
Otacon: Pelo o que ela lutava? Pelo o que eu estou lutando? Pelo o que você está lutando?
Snake: Se sobrevivermos, vou saber dizer.


Snake caminha em direção à porta que leva para a base subterrânea. Ela passa pelo helicóptero que Liquid pilotava. Continua no mesmo lugar onde caiu, do mesmo jeito.

Liquid: Vamos, funcione!!! Snaaaaaaake!!!
Snake: Vejo você no Inferno, Liquid! Que vai cuidar da cremação.


Snake entra e se dirige para o elevador...

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