sábado, 26 de maio de 2007

Não existem heróis numa guerra

Meryl: É a segunda vez que tenho a chance de pegar o lendário Solid Snake.

Snake vira-se e encara Meryl de frente.

Snake: Você é Meryl? Não consegue se passar por homem por muito tempo, não?
Meryl: O que quer dizer com isso? Homens que não podem entrar aqui!
Snake: Não fazia idéia de que você fosse tão feminina.
Meryl: Não temos tempo pra você me flertar, Snake. Além do mais, é perda de tempo. Quando me recrutei, fiz psicoterapia pra destruir meu interesse por homens.
Snake: A mesma língua afiada... Você se feriu?
Meryl: Ainda não. Afinal, eu estava disfarçada de soldado genoma.
Snake: E por que se trocou? É melhor se vestir como um deles.
Meryl: Estava cansada de me esconder. A verdade é que... aquele uniforme cheirava sangue.

Snake avista uma tatuagem da FOX-HOUND no braço esquerdo de Meryl.

Snake: Que marca é essa?
Meryl: Ah, isso? É uma tatuagem, não é definitiva. Eu era fã da FOX-HOUND há muito tempo. Na época que você e meu tio faziam parte dela. Não hoje, com esse negócio de terapia genética. Vocês, sim, eram grandes heróis.
Snake: Não existem heróis numa guerra. Todos que eu conheço estão mortos... ou presos. Um ou outro.
Meryl: Mas, Snake, você é um herói, não?
Snake: Eu só sou um cara bom no que faz: matar. Não há vitória ou derrota para um mercenário. Os únicos vitoriosos da guerra são o povo.
Meryl: Certo. E você luta pelo povo.
Snake: Eu nunca lutei por ninguém a não ser por mim mesmo. Não tenho um plano pra minha vida, nenhum grande objetivo.
Meryl: Não é assim...
Snake: Só enfrentando a morte de frente é que eu me sinto realmente vivo.
Meryl: Ver outras pessoas morrer o faz sentir vivo... Você ama a guerra e não quer parar. Será sempre a mesma coisa com todos os grandes soldados da história?
Snake: Por que não me contatou?
Meryl: Meu Codec quebrou.
Snake: Só isso?
Meryl: Você não deveria ficar feliz em me ver bem? Como me reconheceu quando eu estava disfarçada, antes de virmos pra cá?
Snake: Eu nunca esqueço uma mulher.
Meryl: Então existe algo em mim que você gosta, hein?
Snake: Sim, você tem uma bunda bem grande.
Meryl: Estou vendo... primeiro, meus olhos... agora, minha bunda... qual o próximo?
Snake: Nunca se pensa no significado de "próximo" em campo.
Meryl: Bem, Snake... e como vão as negociações?
Snake: Sem progressos.
Meryl: Então, tudo depende de você, hein?
Snake: Alguém precisa impedi-los de lançar um míssil nuclear. Você está com os cartões do Baker?
Meryl: Cartões? Você que dizer isso?
Snake: Onde estão os outros? São três!
Meryl: Este é o único que eu tenho.
Snake: Onde devem estar os outros dois?
Meryl: Não faço idéia, mas tem de estar em algum lugar. Se não os acharmos, não teremos alternativa a não ser destruir o Metal Gear.
Snake: Eu vou pra base de manutenção.
Meryl: Leve-me junto. Conheço esse lugar melhor do que você.
Snake: Você só vai me atrasar, não tem experiência suficiente.
Meryl: Não vou, prometo.
Snake: E se isso acontecer?
Meryl: Você pode atirar em mim.
Snake: Não gosto de desperdiçar balas.
Meryl: Certo. Tomarei cuidado. Sabe... eu não costumo usar maquiagem como as outras mulheres... Dificilmente me olho no espelho. Sempre desprezei a mulher dentro de mim. Sempre sonhei em ser uma soldada, mas me enganei. Não era realmente o meu sonho. Meu pai morreu em ação quando eu era mais jovem.
Snake: E você queria seguir os passos do seu pai?
Meryl: Não é bem isso. Eu achei que me tornando uma soldada, poderia entendê-lo melhor.
Snake: E você já é uma?
Meryl: Achei que era, até hoje. Mas... agora eu entendo. A verdade é que eu só tinha medo de olhar pra mim mesma, medo de tomar minhas próprias decisões na vida, mas eu não quero mais mentir pra mim mesma. É hora de me olhar bem, saber quem sou, do que sou capaz. Quero descobrir por que vivi assim até agora.
Snake: Dê uma boa olhada, você não vai ter outra chance tão cedo. Devia lavar o rosto enquanto ainda está aqui. Isso não é um exercício de treinamento, nossas vidas estão em jogo. Não existem heróis ou heroínas. Se você perder, vira comida de minhoca.
Meryl: Eu sei.
Snake: Essa FAMAS (25) está funcionando?
Meryl: Infelizmente, está sem munição.
Snake: Onde conseguiu essa Desert Eagle (26)?
Meryl: No depósito de armas. É uma calibre .50 Ação Expressa. Tinha uma SOCOM (27) também, mas eu escolhi essa.
Snake: Então eu tenho uma mais leve, hein? Ela não é um pouco grande pra uma menina?
Meryl: Relaxe. Eu consigo manejá-la.
Snake: Vamos, use a minha .45?
Meryl: Uso uma dessas desde os meus oito anos. Sinto-me mais à vontade com ela do que com um sutiã. Bem, se vamos para o norte, temos de passar pela sala do Comandante e depois pelas geleiras. Esse cartão de segurança abre a porta. Estava dentro do uniforme que eu me vesti.
Snake: Parece que ele vigia um lugar importante.
Meryl: Vamos, eu vou na frente. Siga-me.

Meryl entrega dois cartões a Snake: um para passar pelas portas com nível alto de segurança e outro para o desarmamento do código de detonação do Metal Gear. Ambos saem do banheiro feminino. Estranhamente, não há guardas no local e a música ambiente pára. Ao chegar na frente da sala do Comandante, Meryl cai de joelhos e balança a cabeça com muitas dores.

Meryl: Minha cabeça... tá doendo!
Snake: O que há de errado?
Meryl: Se afaste, Snake!
Snake: Você está bem? O que aconteceu?

Meryl se levanta, mas sua voz está diferente, parece abafada por uma máscara de gás. Ela parece recepcionar Snake ao chegar à sala do Comandante.

Meryl: Eu estou bem. Vamos. Entre, Senhor FOX-HOUND, o comandante o espera.

Ao entrar na sala, Meryl grita de dor. De repente, saca sua arma e aponta para Snake enquanto caminha em direção a ele.

Meryl: Snake, você gosta de mim?
Snake: O quê...
Meryl: Você gosta de mim, Snake? Me abrace!
Snake: O que está acontecendo?
Meryl: Rápido... rápido! Transe comigo, Snake! Eu quero você!

Snake surpreende-se ao ver Psycho Mantis levitando literalmente atrás de Meryl com camuflagem Stealth.

Snake: Quem é esse?
Mantis: Você não gosta de mulheres?

O Codec toca.

Campbell: Snake, Meryl não está agindo por si mesma. Não use nenhuma arma.
Naomi: É o Psycho Mantis que está controlando a Meryl. O que começou a tocar agora é uma música pra controlar a mente dela.
Campbell: Não use armas. Tente deixá-la inconsciente!

Snake facilmente golpeia Meryl. Psycho Mantis desliga sua camuflagem.

Mantis: Mulher inútil!
Snake: Camuflagem Stealth... espero que não seja seu único truque...
Mantis: Duvidando do meu poder? Então vou lhe mostrar por que sou o mais poderoso praticante de psicocinese e telepatia no mundo. Não preciso de palavras, eu sou Psycho Mantis. Não há truques, o que você vê é meu poder.

Snake checa pra ver se Meryl não se machucou. Depois aponta uma arma para Psycho Mantis.

Mantis: Inútil. Eu disse... posso ler cada pensamento seu. E eu sei seu ponto fraco!

Mantis toma o controle de Meryl novamente e a faz apontar sua arma para a própria cabeça.

Mantis: Fique onde ele possa ver e exploda seus miolos!
Meryl: Aaahhh!!!
Snake: Meryl! Pare!

Snake a deixa inconsciente mais uma vez. Após muita concentração para não deixar que Mantis lesse sua mente, Snake o derrota agindo de forma a surpreendê-lo. Após isso, Snake checa como Meryl está e chama Campbell por Codec.

Snake: Coronel, sua sobrinha vai ficar bem.
Campbell: Obrigado, Snake, lhe devo uma.
Snake: Agora que derrotei Mantis, essa lavagem cerebral em Meryl vai desaparecer, certo Naomi?
Naomi: Sim. Por que você se esforçou tanto pra salvá-la? Por causa do Campbell ou por que talvez você goste dela?
Snake: Eu não queria ver uma mulher morrer na minha frente.
Naomi: Sério? Desde quando você se importa tanto com alguém?
Campbell: Naomi, eu sei que o Snake já matou muita gente, mas isso não significa que ele não tenha um coração.
Snake: Tudo bem, coronel. Ela está certa.
Naomi: ...

Snake anda em direção ao Psycho Mantis. Meryl se levanta.

Mantis: Eu... eu não consegui ler o futuro.
Snake: Quem é forte não precisa ler o futuro, o faz.
Mantis: Talvez, mas ainda vou ler o seu... Para chegar à base do Metal Gear, você precisa passar por aquela porta secreta. Você vai atravessar o bloqueio das geleiras e chegará às escadas das torres de comunicação.
Snake: Por que está me contando isso?
Mantis: Eu consigo ler as mentes. Na minha vida, já li passados, presentes e futuros de milhares de homens e mulheres.

Snake retira a máscara que cobre o rosto deformado e costurado de Psycho Mantis.

Meryl: Meu Deus...
Mantis: E em toda mente que penetrei, achei o mesmo objeto de obsessão. O mesmo desejo egoísta de invejar o que é do outro. Foi o suficiente pra me deixar doente. Cada ser vivo em nosso planeta existe, mesmo sem pensar, pra passar seu DNA adiante. Fomos feitos assim. E por isso que existe guerra. Mas você... você é diferente. Você é como nós: sem passado e sem futuro. Nós vivemos o momento, é o nosso único objetivo. Os humanos não foram feitos pra levar alegria uns aos outros. Desde o momento que nascemos neste mundo, somos fadados a levar aos outros tristeza e sofrimento. A mente da primeira pessoa onde mergulhei foi a do meu pai. Tudo o que vi foi desgosto e ódio por mim no coração dele. Minha mãe morreu no parto... e ele me desprezava por causa disso. Eu achava que ele ia me matar. Foi quando meu futuro desapareceu. E junto com ele, meu passado também. E quando voltei, minha vila foi envolta pelas chamas.

O espírito de Mantis começa a levitar atrás dele.

Snake: Você está dizendo que você incinerou toda sua vila pra enterrar seu passado?
Mantis: Eu vejo que você sofre do mesmo trauma. Nós somos iguais. O mundo é mais interessante com pessoas assim... Nunca concordei com a revolução feita pelo chefe. Os sonhos dele de conquista não me interessam, eu só queria uma desculpa pra matar o quanto eu pudesse.
Meryl: Seu monstro!
Snake: Deixe-o falar. Ele não tem muito tempo mesmo.
Mantis: Eu vi o verdadeiro inferno. Você, Snake, é como o chefe. Não, você é pior. Comparado a você, eu nem sou tão mau. Eu li a mente dela também.
Snake: Da Meryl?
Mantis: Eu o vi lá. Você ocupa um grande espaço no coração dela.
Snake: Um grande espaço?
Mantis: Sim. Mas eu não sei se os futuros de vocês estão juntos. Eu tenho um último pedido.
Snake: O que é?
Mantis: Minha máscara... coloque-a de volta.
Snake: Sim.
Mantis: Do mesmo jeito, outras pessoas tentaram entrar à força em minha mente, antes de eu morrer... Eu só quero ficar só... Deixe-me sozinho no meu mundo. Eu vou abrir a porta pra você.

Mantis aponta para uma estante de livros e faz com que ela se mova liberando a passagem para as geleiras.

Mantis: Para conhecer seu futuro, atravesse aquela porta. Essa foi a primeira vez que usei meu poder pra ajudar alguém. É estranho... parece... bom...

Mantis morre na frente de Snake e Meryl. Snake hesita por um momento, depois se levanta.

Snake: Vamos, Meryl.
Meryl: Desculpe-me.
Snake: Meryl?
Meryl: Como eu pude deixar Mantis me controlar daquele jeito?
Snake: Se for se questionar, vou deixá-la aqui.
Meryl: Você está certo.
Snake: Nunca duvide de si mesma. Deixe o que já aconteceu torná-la mais forte. Tire alguma lição.
Meryl: Você está certo. Desculpe-me, não farei de novo... Snake, posse lhe perguntar uma coisa?
Snake: O quê? Qual problema, agora?
Meryl: Oh, nada. Só me diga, qual seu nome? Seu nome de verdade.
Snake: Um nome não quer dizer nada num campo de batalha.
Meryl: Quantos anos você tem?
Snake: O bastante pra saber como a morte se parece.
Meryl: Tem família?
Snake: Não, mas fui criado por muitas pessoas.
Meryl: Alguém que você goste?
Snake: Nunca me interessei pela vida de ninguém.
Meryl: Então você está sempre só, como disse o Mantis.
Snake: Outras pessoas só complicam minha vida. Não gosto de me envolver.
Meryl: Você é um homem triste.
Snake: Vamos.

Snake deixa a sala junto com Meryl. Após cruzar as geleiras, chegam a um grande e aberto corredor onde é possível avistar as gigantescas torres de comunicação. Curiosamente, um feixe de laser percorre parte do corpo de Meryl.

Snake: Meryl!!!
Meryl: O que é isso?
Snake: Meryl, abaixe-se!!!

Meryl toma um tiro na perna e Snake corre se esconder atrás de um muro. De joelhos, Meryl é novamente atingida na outra perna caindo de vez no meio de muito sangue. Os gritos de Meryl ecoam pelo corredor e o desespero de Snake aumenta ainda mais quando mais um tiro é disparado, acertando o braço de Meryl.

Meryl: Snake... Deixe-me e fuja...
Snake: Meryl...
Meryl: Eu acho que... sou uma amadora mesmo...
Snake: Calma, Meryl. Sou eu quem eles querem.
Meryl: Até mesmo eu sei disso, é o truque mais velho da história... O atirador está me usando como isca pra o atrair.
Snake: Droga!
Meryl: Mate-me, Snake.
Snake: Não!
Meryl: Minha arma... não consigo alcançá-la sozinha.
Snake: Não se mexa!
Meryl: Eu prometi... que eu não iria o atrasar! Eu... eu... ainda... posso ajudar... eu quero ajudar.
Snake: Fique quieta... Salve suas forças!
Meryl: Eu fui muito idiota, eu queria ser uma soldada. Mas a guerra é feia... não tem nenhum glamor. Snake, por favor, se salve. Siga sua vida ajudando as pessoas. Não se esqueça de mim... Agora, saia daqui!

O Codec de Snake toca.

Campbell: Meryl! Droga! Snake, é uma armadilha! Um truque do atirador para o atrair. Ele está esperando que você vá ajudar a Meryl para o matar! Não vá!
Naomi: É a Sniper Wolf, a melhor atiradora de elite da FOX-HOUND.
Snake: Atiradores trabalham em pares geralmente, mas essa trabalha sozinha...
Naomi: Eu a conheço. Ela pode esperar horas, dias ou semanas, não importa. Só está observando e esperando que você se exponha.
Snake: Talvez. Mas Meryl não vai agüentar muito tempo.
Naomi: Snake, você consegue enxergar a Wolf de onde está?
Snake: Não. E não tem lugar pra se esconder nesse corredor. Ela deve estar no segundo andar da torre.
Campbell: Se ela estiver lá, ela consegue o enxergar perfeitamente. É a posição clássica dos atiradores. E nessa distância, você não vai conseguir acertá-la com uma pistola convencional. Você precisa de um rifle de longa distância.
Snake: Coronel, acalme-se.
Campbell: ...
Snake: Eu vou salvar a Meryl, custe o que custar.
Campbell: Tá certo. Obrigado.
Naomi: ...
Snake: O que foi, Naomi?
Naomi: Nada, só estou surpresa com essa sua vontade de se sacrificar tanto... você tem genes de um soldado, não de um herói.
Snake: Tentando dizer que só me interesso em salvar minha própria pele?
Naomi: Eu não iria tão longe, mas...
Snake: Eu não sei como a droga dos meus genes se parece e também não estou interessado! Eu opero por instinto!
Naomi: Como um animal?
Snake: Eu vou salvar a Meryl! Não preciso de desculpas pra isso!
Naomi: Tudo bem.
Snake: E também não vou fazer isso por alguém. Eu vou fazer por mim! Coronel, não se preocupe!
Campbell: Snake, obrigado.
Naomi: Eu entendo. Desculpe-me.

Snake deixa o local pela mesma porta por onde entrou deixando Meryl sozinha, à deriva de Sniper Wolf. Como agora possui um cartão de acesso às portas com nível de segurança mais alto, volta ao depósito de armas e consegue um rifle para enfrentar a atiradora da FOX-HOUND. Depois de percorrer o longo caminho de volta ao local onde Meryl foi atingida, Snake repara que o corpo de Meryl fora retirado de lá. Snake caminha até o local onde Meryl foi atingida e lembra-se mais uma vez da trágica cena ao ver o sangue dela ainda pelo chão. Após percorrer todo o longo corredor e prestes a entrar nas torres de comunicação, Snake é surpreendido por três guardas.

Genoma: Parado!!!

Snake não tem escolha a não ser se render enquanto ouve passos de mais alguém se aproximando...

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