sábado, 14 de abril de 2012

Enquanto há luz, há sombra


Big Mama, Snake e as outras vãs, inclusive a que contém o corpo do Big Boss, partem. Os resistentes nas vãs fazem caminhos diferentes na cidade para despistar os soldados da PMC Raven Sword. Entretanto, são achados e perseguidos. No caminho de Snake, quem aparece para dificultar a fuga é Raging Raven, a B&F alada. Dessa forma, a van que os acompanhava se separa para tentar confundi-la.

Raging Raven: Achei você, Snake! Cadê a sua raiva?! Cadê a sua fúria?!
Otacon: Más notícias... As vãs usadas para despistar viraram pó, ou seja, o único foco do inimigo está em vocês. Tente agüentar um pouco mais.

Após passar pela ponte do Canal que gostariam de chegar, eles se juntam com a van.

Otacon: Acho que nos perderam!
Big Mama: Está ali!

Raging Raven não havia os perdido. Ela atira uma granada em direção à van, que explode e faz Big Mama e Snake rolarem no chão. Snake pára ao atingir um muro e, Big Mama, um portão. Snake ainda zonzo, consegue se levantar e checar se Big Mama está bem.

Snake: Tudo bem? Big Mama, vamos... Fique comigo.

Um pedaço de ferro retorcido do portão está fincado em seu abdômen, no mesmo lugar que fora perfurada uma vez, na Operação Devorador de Cobras. Atordoada, ela vê a imagem de Big Boss, Naked Snake na época.

Snake: Eva... eu preciso de você!
Big Mama: É você? Snake...
Snake: ...
Big Mama: O papel de uma mãe nunca acaba...
Snake: Big Mama!
Big Mama: Onde está a van?
Snake: Ali.
Big Mama: E as crianças?...

Com esforço, eles se levantam. Snake ajuda Big Mama a sair do portão e vai checar a van que explodiu. O motorista está morto. A Big Mama cai de joelhos no chão, triste pelos acontecimentos.

Big Mama: Sinto muito...

Snake pega o rifle que o motorista da van carregava, entrega para a Big Mama e entra numa torre junto com ela. Os gritos de Raging Raven ainda ecoam no ar.

Big Mama: Ela vai vir inspecionar a van.
Snake: Vou tomar conta dela. Fique aqui, continue alerta.
Big Mama: Vou ligar para as crianças.
Snake: Tome, fique com isso.
Big Mama: Snake... Volte inteiro.
Snake: Eu vou voltar.
Big Mama: Promete?
Snake: ...

Ao chegar ao topo da torre pela escada em espiral, Snake ouve a criatura cibernética do outro lado da porta. Ele checa sua M4 que ganhou de Drebin e verifica se tem munição. Ao entrar na sala, vazia, ele experiencia mais dores e injeta uma seringa em sua nuca. Já recuperado e pronto pra subir mais escadas na grande sala, a B&F Raging Raven aparece quebrando um dos muros.

Raging Raven: Me dê a sua raiva, Snake! Deixe-a ferver! Solte a sua fúria! Raiva gera raiva! Vamos, onde está a sua fúria?!

Snake duela com Raging Raven e, sendo mais rápido, consegue feri-la por dentro de sua armadura, que cai. Sobra somente a menina por baixo dela, envolta numa roupa cheia de penas negras como a dos corvos.

Raging Raven: Seus idiotas... nunca vou me esquecer... nunca! Eu sinto a raiva crescendo dentro de mim... me consumindo. Não... não... nunca vou me perdoar. Não quero mais sentir raiva. Eu não preciso de raiva... Eu não estou com raiva... estou com medo!!! Me ajude!!! Os pássaros vão comer minha carne!!! E a minha alma!!! Façam-nos parar!!! Eu não preciso mais de ódio!!! Já chega!!! Me ajude!!!

Com a voz calma agora, ela caminha em direção a Snake, sem medo.

Raging Raven: Me tire dessa cela. Não preciso de asas... não preciso de ódio... Vamos, deixe sua raiva fluir.

Snake, intrigado pelo ataque histérico da mulher e pelo seu comportamento calmo logo em seguida, a deixa inconsciente. Ao cair, ela se fecha numa posição fetal e as penas pretas que a envolviam se tornam brancas. Ela ainda respira. Drebin liga para Snake.

Drebin: Conseguiu abater o pássaro, hein Snake?
Snake: Drebin...
Drebin: E ganhou um presente ainda: um lança-granadas. Legal! Essa arma é bem legal!
Snake: Meio inútil com ID, né?
Drebin: Vou lavar sem custo.
Snake: Qual o trato?
Drebin: Que você a dê pra mim quando terminar sua missão. Uma arma com muitas décadas de ódio... é um item de colecionador.
Snake: Quantos anos ela tinha?
Drebin: Diria que uns vinte. Mas possuía anos de ódio dos soldados escondido em seu jovem corpo.
Snake: Dos soldados?
Drebin: É. Os soldados de Achém, um lugar sem paz há muito, muito tempo. Foi capturada por um dos lados e mantida numa gaiola como um animal Deus sabe com quantas outras crianças.
Snake: Violência anônima.
Drebin: Exato. Não se sabe se quem a capturou estava com o governo ou com os rebeldes. De qualquer forma, continuaram abusando dessas crianças indefesas dia após dia. Essa barreira constante, esse ódio do campo de batalha, foi crescendo devagar dentro dos corpos... das mentes dessas crianças... Elas tentavam ficar bem, na esperança de alguém resgatá-las um dia, sobrevivendo com restos de comida. Mas os soldados não paravam. Chamavam as crianças de parasitas e de corvos que comem merda. E as espancavam. Numa manhã, os soldados acordaram e partiram do local, deixando as crianças vivas virar comida dos corvos. Quase como um Enterro Celestial (145). Os corpos das crianças foram destroçados um por um, até que finalmente chegou a vez dela. Mas por algum milagre, os bicos cortaram o que a prendia. E ela se libertou. Naquele instante, foi preenchida pelo ódio que esmagou sua alma. Ela deixou os pássaros em pedaços e foi atrás dos soldados. Quando finalmente os encontrou, esperou a noite cair como os caçadores fazem com suas presas. Dizem que um homem morre toda vez que um corvo chora. E foi exatamente o que aconteceu nessa noite. Ela matou gritando e rangendo tudo o que se mexia no campo: soldados e civis escravizados. Aos olhos dela, já não tinham diferença, por causa da crueldade que seus amigos enfrentaram... por todo o sofrimento e humilhação que passou... foi como evaporou a fúria de décadas de guerra de dentro desses soldados.
Snake: Foi a força dela a maior fraqueza.
Drebin: Você é ainda mais do que isso, Snake. Você limpou o ódio que ela sentia. Não, sério... Você é uma semente da guerra. Diria que você é a própria guerra.
Snake: Drebin...
Drebin: Talvez seja muito cedo pra dizer... Você ainda tem metade da tropa B&F pra tomar conta. Não tire o olho da bolinha, parceiro.

Snake volta para resgatar Big Mama.

Big Mama: Snake... me desculpe. As três vans que saíram conosco eram pra despistar a PMC. A de verdade está a caminho do rio. Consegui entrar em contato com as crianças... A píxide está segura. Vamos nos encontrar com eles no final do rio. As rotas aéreas e terrestres estão bloqueadas... Mas um barco está a nossa espera. O Rio Volta é nossa única chance de sair. Vamos... Apresse-se...
Snake: Boa idéia.
Big Mama: Por aqui.

Eles saem da torre e Big Mama se encaminha para um tampão de esgoto perto da moto quebrada.

Big Mama: Não preciso sentir mais o vento. Não preciso mais mentir pra mim mesma. Só vou descer da minha moto... quando me apaixonar... ou quando eu...
Snake: ...
Big Mama: Snake... me ajude.
Snake: Claro.
Big Mama: O duto subterrâneo leva para o rio. Deve haver saída lá em baixo.

Snake ajuda a abrir o tampão para entrarem e o fecha de dentro. Escaravelhos monitoram suas ações de longe. Depois de muito andar, Snake e Big Mama chegam ao Rio Volta. Tomando todo cuidado ao sair sob uma ponte, Snake avista um homem fumando um cigarro.

Snake: Liquid!
Liquid Ocelot: Nada mal.
Big Mama: Cadê a píxide?
Liquid Ocelot: Não importa mais.
Big Mama: Onde está?

Liquid Ocelot sopra a fumaça de seu cigarro em direção a um barco em chamas. Big mama cai de joelhos em prantos.

Snake: Aquele é...?

SAPOS aparecem para cercar Snake e Big Mama. Vamp surge da doca de um barco próximo a eles. Naomi aparece do lado dele.

Snake: Naomi.
Liquid Ocelot: A Naomi me contou tudo. E, finalmente graças a ela, eu o tenho! O que procurei tanto tempo... o Big Boss. Abaixe a arma, Snake. Já é tarde. Você quase conseguiu. Mas, depois de tudo, eu venci.

Snake abaixa a arma e pega uma faca enquanto Liquid se aproxima.

Liquid Ocelot: Cigarros... os preferidos do nosso pai. O que me diz? Quer uma última tragada?
Snake: Você se acha o Big Boss agora?
Liquid Ocelot: Foi culpado de suas acusações. Mas tudo acaba hoje.

Liquid Ocelot sopra a fumaça na cara de Snake. Após alguns movimentos de CQC, Snake acaba no chão sem sua arma e com sua própria faca fincada em seu ombro.

Liquid Ocelot: Boa tentativa... Mas quando se trata de CQC, eu sou melhor.
Snake: Mesmo se você tomar conta do Sistema, você só vai ter uma das IAs dos patriotas: a parte militar.
Liquid Ocelot: E daí, irmão? É só uma questão de tempo antes de eu conseguir tudo. Lembra-se do GW? A IA que pensaram ter perdido? É minha... parte do meu exército.
Snake: Impossível! Nós a destruímos!
Liquid Ocelot: O seu vírus só cortou o GW em algumas partes... que conseguimos reconstruir. E o escondemos dentro da rede do JD. O corpo dele já me serviu... me dando acesso a cada barreira de segurança entre eu e o GW. No fim, o Sistema dos Patriotas não é nada além de uma máquina. Agora que o GW é um espião dentro da rede, não há como o JD reconhecê-lo como uma ameaça externa. Assim que eu destruir o JD com um ataque nuclear, a rede dos Patriotas será minha. E então vou construir o meu Paraíso... Livre de todas as formas de controle. Vou abandonar minha velha identidade... e usar meu nome de verdade pela primeira vez.
Snake: Liquid, está planejando recriar os Patriotas?
Liquid Ocelot: Snake, fomos criados pelos Patriotas. Nós não somos homens, somos sombra de um homem. Somos aberrações que nunca deveriam ter existido. Somos um sistema... uma garantia que as gerações futuras nunca prosperem. Os patriotas acharam conveniente nos criar e essa é nossa única raison d'être (146). Não vou mais lutar contra meu destino. Vou matar o Zero e o Big Boss e me tornar um Patriota. Tudo começou com eles. O nosso propósito de vida é completar o destino deles. Quando tudo voltar à estaca zero... o mundo pode nascer de novo.

Liquid pega a faca de Snake e ativa a função de teaser, dando-o um forte choque.

Big Mama: Adam...
Liquid Ocelot: Enquanto vivermos, o mundo não vai saber o que é uma era de luz. Se quisermos mesmo passar algo pras gerações futuras, nossa única escolha é a morte.
Vamp: Boss...
Liquid Ocelot: Ótimo. Os times se uniram, Snake. É hora de você testemunhar... nosso momento de glória! Vamos!

Vamp aproxima o barco da terra, da plataforma onde estão Big Mama, Snake e Liquid Ocelot. Liquid os deixa e parte no barco. De longe, uma luz muito intensa é jogada no iate de Vamp. A unidade de Meryl montara uma armadilha, mas eles parecem ignorar.

Meryl: Fique onde está, Liquid! Soltem suas armas e deitem-se no chão!!! Agora!!!

De repente, barcos aparecem para cercar o de Liquid. Helicópteros rodeiam o local e carros e caminhões militares cercam as margens do rio Volta e tomam as pontes que passam por cima dele. Liquid está totalmente cercado.

Meryl: Todos vocês, soltem suas armas e coloquem as mãos pra cima!

Liquid levanta suas mãos sem armas, Vamp e Naomi fazem o mesmo. Snake carrega Big Mama e a ajuda a subir no barco de Meryl. Depois, Meryl posiciona o seu barco na frente do de Liquid. Ele faz um gesto como se sua mão fosse uma arma. Snake acha estranho a atitude e suspeita que algo errado vai acontecer.

Meryl: Preparem-se!
Snake: Liquid! Pare!
Meryl: Atirem!

Ao comando de Meryl, Liquid parece atirar com seus dedos. As luzes dos barcos que os cercam se apagam de repente. Meryl tenta atirar com sua própria pistola, mas não consegue. Ela empunha outra, mas nada. Os soldados na margem e na ponte também não conseguem atirar. Meryl pega uma faca e mira para Liquid.

Liquid Ocelot: O Sistema é meu! Suas armas não são suas! Contemplem... As Armas dos Patriotas! Bang! Bang!


Liquid aponta seus dedos em direção aos helicópteros e eles têm seus motores desligados, fora de controle. Uns caem no rio, outros nas margens matando uma parte dos soldados. Liquid aponta para o barco de Meryl e os SAPOS começam a descarregar suas armas. Aponta para a própria cabeça, grita "Bang!" e todos os soldados que não estão com ele começam a experienciar dor e demência. Na ponte e nos barcos que cercam Liquid, alguns choram, outros caem no chão, alguns começam a lutar sem razão, outros vomitam... Tudo acontece como no Oriente Médio ou na América do Sul, mas de forma mais intensa. Meryl, Johnny, Ed, Snake... apesar de sentirem menos, ainda sofrem espasmos. Akiba, o único a se sentir bem, ajuda seus companheiros.



Akiba: Jonathan! Ed! Comandante! Comandante...
Meryl: Akiba... Você está... está bem?
Akiba: Sim, estou bem.
Meryl: Mas por quê?...

Todos os soldados, por problemas gerados em suas mentes ou pelas balas disparadas pelos SAPOS, morrem. Liquid ri histericamente em seu barco enquanto Naomi parece estar em choque escondida atrás de Vamp.

Liquid Ocelot: Está vendo isso, Zero? Nós vencemos! Contemple as Armas dos Patriotas! Fora do meu caminho, Snake!

Liquid Ocelot mira um canhão em direção ao barco de Meryl. Jonathan e Ed voam na água pelo outro lado após o tiro acertar a parte de baixo no barco. Akiba se joga na água com Meryl para se salvarem. Snake e Big Mama não conseguem pular.

Liquid Ocelot: Deixem com eles! Não precisamos mais disso.

Vamp atira o corpo de Big Boss na parte do barco de Meryl que pega fogo. Big Mama, em desespero, corre para abraçar o corpo. Snake corre para não deixá-la se atirar ao fogo. Liquid alcança uma pistola.

Liquid Ocelot: Tchau, Snake!
Snake: Otacoooooooon!

Liquid atira no tanque e as chamas queimam o rosto de Snake. O corpo de Big Boss vira cinzas. Snake se arrasta com Big Mama para sair das chamas. O Mk.II camuflado pula no barco de Liquid antes de partirem.

Ed: Você e eu... fomos grandes parceiros.
Jonathan: Não... grandes amigos.

Akiba na margem do rio começa a fazer respiração boca a boca em Meryl para ver se ela acorda.

Akiba: Meryl... Meryl! Meryl! Não desista... Meryl, não vá ainda...
Meryl: Akiba...
Akiba: Eu... eu... é... digo...
Meryl: Obrigado, Akiba...
Akiba: Tudo bem, Meryl?
Meryl: Ãhn-ham...
Akiba: Se não for muito, me chame de Johnny.

Ao acordar e expelir toda água, Meryl dá um beijo em Johnny. Eles olham em volta e vêem Snake abraçado a Big Mama.

Big Mama: Não existe diferença entre você e as bestas, criaturas queimadas pelo fogo que nascem num mundo que não é delas. Quando uma besta anda na luz, a não ser que apaguem essa luz, as sombras também não se apagam... Enquanto há luz, há sombra. Pra tudo voltar ao normal, a luz precisa ser extinta. E quando isso acontecer... você também vai ser...

Big Mama morre com a mão no rosto queimado de Snake. Drebin chega ao local para ajudar todo mundo.

Snake: Você...
Drebin: Como eu disse, me orgulho do meu trabalho.
Snake: ...
Drebin: Vamos. Vamos levar você até seus amigos.

Snake urra de dor quando a faca que Liquid fincou em seu obro é arrancada por Drebin. Enquanto Drebin o ajuda a levantar, seu macaquinho tenta o animar, mas Snake cai desacordado na beira do rio Volta. A visão é só desolação...


2 comentários:

Dom_Lu disse...

Parabéns pelo excelente trabalho na tradução desta fantástica saga, Artur! Vc já tem muitos fãns no Forum da UOL! ;)

No aguardo do fechamento desta "BIG" história, de MGS4!

Um abraço e tudo de bom!

Dom_Lu

Artur Gelumbauskas disse...

Obrigado, Dom_Lu!
Bom saber que o pessoal do Fórum curtiu!
Acho que hoje já sai mais um pedaço. Confesso que é um ato que traz muitas memórias!