Solidus: Ele ainda está vivo?Ocelot: Estava quando a Olga o trouxe. Chequei tudo incluindo os dados genéticos, mas não existe nada sobre cara. NSA, CIA, FBI... Ele não existe em nenhum banco de dados. É um operativo inexistente de uma organização também inexistente.
Solidus: Como eu suspeitava. Mesmo assim, eu conheço esse homem... Acorde-o.
Uma plataforma prende Raiden pelos braços e pelas mãos. Lentamente, a cama se volta para a posição vertical. Raiden é observado por Ocelot e por Solidus, que agora detém dois tentáculos em sua armadura. A sala é extremamente similar à sala de tortura da base ocupada pelos terroristas na Ilha Shadow Moses quatro anos atrás.
Solidus: Faz um bom tempo, hein "Jack, o Estripador" (82)?
Ocelot: Você conhece esse camarada?
Solidus: Você se lembra de mim, não? Você cresceu...
Solidus agarra Raiden com um dos tentáculos ao redor do pescoço.
Solidus: Alta concentração de implantes cerebrais... Alteraram sua memória também?
Raiden: Aaaaarrgghhh!
Solidus: Este é meu filho... Eu lhe ensinei tudo. Jack, nunca pensei que fosse vê-lo novamente...
Raiden: Você... me conhece?!
Solidus: Você não se lembra? Seu nome, suas técnicas... tudo o que você sabe, você sabe por minha causa. Anos oitenta... guerra civil. Você era o melhor entre todos os jovens soldados que lutaram naquele conflito. Mesmo com somente dez anos, você se tornou o líder da unidade dos pequenos garotos. Naquela época, seu recorde impressionante de assassinatos o rendeu muitos apelidos como "Demônio Branco" ou "Jack, o Estripador". Jack, eu era o seu padrinho, eu lhe dei nome. Quando a guerra acabou, você desapareceu do centro de recuperação. Pensava muito no que podia ter acontecido com você... Deveria saber que o recrutariam.
Ocelot: Que coincidência interessante.
Solidus: Se ele é um servo dos Patriotas, aposto que ele sabe muita coisa interessante.
Ocelot: O que devemos fazer com ele?
Solidus: Vamos usá-lo como você sugeriu...
Ocelot: E com a Dead Cell?
Solidus: Ignore-os.
O braço de Ocelot começa a se movimentar sozinho.Solidus: Acontecendo de novo?
Ocelot: Será que ele também está aqui?
Solidus: Hmmm... A qualquer hora, vamos demonstrar o poder do Arsenal Gear.
Ocelot: Ataque com as armas padrão, claro.
Solidus: Sim, procederemos conforme o planejado.
Ocelot: Pelas últimas estatísticas, tudo vai bem com o "GW".
Solidus: E as tropas?
Ocelot: Os homens já estão com os equipamentos do Arsenal como ordenado.
Ocelot olha bem para o tampão de olho que Solidus está usando.
Ocelot: Sabe, você é imagem cuspida do Big Boss...
Solidus ri freneticamente.
Solidus: Ah é? Acho que eu deveria agradecer a essa criança por isso.
Solidus deixa sala.
Ocelot: Essa situação... Eu achei bem... nostálgica.
Raiden: Onde eu estou?
Ocelot: Por quê? Dentro do Arsenal Gear, claro. Na verdade, também estamos dentro da memória de Shadow Moses.
Ocelot segura um disco que Raiden carregava no bolso.
Ocelot: Vou pegar isso de volta. Você não vai mais precisar, né?
Olga entra na sala, vê Ocelot e passa direto enquanto ele deixa a sala falando com Raiden.
Ocelot: Está vindo um mal cheiro no ar... voltamos a conversar novamente.
Olga: Não se mova... fique como está. Estamos sendo monitorados por uma câmera.Raiden: Por que está aqui?
Olga: Estou mudando para nanocomunicação.
Raiden: Mr. X? Ninja?
Olga: Sim, sou eu.
Raiden: Achei que era líder das tropas russas.
Olga: Não, era somente uma encenação.
Raiden: Encenação?
Olga: Fui mandada pra lhe prover suporte.
Raiden: Suporte? Quem a mandou? O coronel?
Olga: Não, os Patriotas.
Raiden: O quê?!
Olga: Eu ludibriei minhas tropas... eu os traí.
Raiden: Mas por quê?
Olga: Minha bebê é refém dos Patriotas. Tudo começou dois anos atrás quando perdi o meu pai durante o incidente do tanqueiro. Meus homens e eu não tínhamos lugar pra ir, então nos juntamos com uma organização ilegal russa.
Raiden: A Máfia Russa?
Olga: Do tipo. Só depois eu soube que era uma organização subordinada dos Patriotas. Eu estava grávida na época e quando minha bebê nasceu, estava num hospital controlado por eles. Pela manhã, minha filha tinha sumido. Sei que está em algum lugar desse país.
Raiden: Você chegou a ver sua filha?
Olga: Não. Uma vez por mês, eles me mandam uma foto por Internet, mas nunca a segurei em meus braços...
Raiden: Entendo. Nessa situação, ninguém pode culpá-la pelo o que fez.
Olga: É a sua opinião....
Raiden: E o Snake? Achei que fossem inimigos.
Olga: Ele não foi responsável pela morte do meu pai. A verdade é que devemos nossas vidas a ele. Dois anos atrás, ele foi responsável por nos tirar vivos do navio naufragando.
Raiden: E são parceiros desde então?
Olga: Não, só descobri a verdade pouco antes disso, quando o enfrentei...
Raiden: Você lutou com o Snake?! Quando?!
Olga: Mais ou menos na hora que você andava de mãos dadas com aquela moça.
Raiden: Snake... Então você se juntou a ele pra pagar uma dívida?
Olga: Não, ganho mútuo.
Raiden: Ganho mútuo?
Olga: Meu trabalho é assistir você. Se o Solidus fugir com o Arsenal, sua missão já era. Os Patriotas iriam julgar como falha da minha parte e matar minha filha. De uma maneira bem simples: a vida da minha filha depende do seu sucesso.
Raiden: Então, você fez tudo pela sua filha. Mas por que os Patriotas querem me ajudar? Eles estão esperando que eu bata o Solidus?
Olga: Não, você é como eu: um peão...
Raiden: Com qual propósito?
Olga: O Plano S3...
Raiden: Ãhn?!
Olga: Você vai descobrir mais cedo ou mais tarde. Ouça, não temos mais tempo. Solidus vai começar o ataque a qualquer hora. Ele precisa ser impedido.
Raiden: E sobre o vírus?
Olga: Sem resultados até agora. Acho que os Patriotas o alteraram.
Raiden: Será que vai funcionar?
Olga: Não sei.
Raiden: Me tire dessa coisa.
Olga: Ainda não. Vou soltar suas algemas assim que eu deixar essa sala.
Raiden: Onde estão minhas coisas?
Olga: O Snake está com tudo, não pude trazer.
Raiden: E onde o encontro?
Olga: Tem uma passagem à frente que leva ao hangar. Ele está esperando por você lá. Aqui está um cartão pra passar.
Raiden: O Snake planeja destruir o Arsenal?
Olga: Não, mesmo sendo ele, é impossível destruir isso tudo. Vocês terão que parar o Solidus.
Raiden: O que vamos fazer?
Olga: Fiquem escondidos... essa é minha tarefa. Eu ainda não posso ser descoberta.
Raiden: Olga, você não pode fazer isso. Vão a achar.
Olga: Ouça, vou sair daqui viva. Segure a respiração.
Olga soca o estômago de Raiden e sai da sala. As travas eletrônicas são desligadas. Raiden recebe o chamado de Rose.
Rose: Jack, tudo bem?
Raiden: Sim... sim.
Rose: Jack é verdade? O que o Solidus disse?
Raiden: Sim.
Rose: É inacreditável... treinar crianças pequenas, mandá-las pra guerra... não é permitido por convenções internacionais.
Raiden: Convenções internacionais não significam nada numa guerra. Alguém me disse que existem mais de trezentas mil crianças em combate hoje. Eu era somente uma delas...
Rose: Então você se lembra? Eu achei que sua memória tivesse sido... manipulada por eles.
Raiden: Foi... mas eu tenho pesadelos todo dia, pedaços do passado que não consigo juntar...
Rose: Por que não me contou?
Raiden: Você não ia entender nem o começo.
Rose: Você não ia saber até que tentasse.
Raiden: Eu não queria te ferir. Nunca houve uma razão de verdade pra eu lutar, exceto que alguém colocou uma arma na minha mão. Esse alguém foi ele...
Rose: Não foi sua culpa.
Raiden: Se eu sobrevivesse o dia de luta, eu era elogiado, alimentado e tinha uma cama pra dormir. Acho que tinha somente seis anos quando carreguei minha primeira AK, mas não tenho muita certeza. Eu não sou como o Snake, eu nunca questionei porque eu lutava. Não tinha propósito, não tinha saída. Eles lhe davam uma arma e mandavam matar o máximo que pudesse. Se você não fizesse, você que tomava o tiro.
Rose: Tudo bem, ninguém está o culpando.
Raiden: Nos mostravam filmes de ação hollywoodianos todos os dias, desses com caras gigantes carregando armas gigantes. Chamam isso de treino de imagem. Nos constróem, desde a base, em máquinas mortíferas. Comemos uma vez por dia. Eu ainda sinto o gosto da pólvora misturada na comida.
Rose: Pólvora? Na comida?!
Raiden: A pólvora tem tolueno, que tem poder alucinógeno. Nos mantêm drogados, controláveis.
Rose: Ai meu Deus...
Rose começa a chorar.
Raiden: Quando a guerra civil terminou, os que sobreviveram foram adotados por ONGs. Nos deram uma nova vida nos Estados Unidos. Não posso reclamar, mas nada mudou. As únicas pessoas que não têm problemas com o meu passado, têm segredos e agendas próprias.. Pesadelos terríveis, toda noite... Nunca vou esquecer.
Rose: Jack...
Raiden: Eu tenho medo da noite, por isso nunca dormi perto de você.
Rose: Você devia ter me contado...
Raiden: O quê?! Que sou um assassino?! Que sempre fui?!
Rose: Não, não...
Raiden: O que eu mais odeio, mais que tudo no mundo, é o meu próprio passado. Não queria que você ou ninguém mais soubesse. Agora sei por que fui escolhido pra essa missão. Ninguém vai conseguir batê-lo a não ser eu mesmo. Fui mantido vivo até hoje por causa disso. Eu soube assim que vi o Solidus.
Rose: Jack, eu o amo do jeito que é hoje. Você tem que acreditar em mim. Eu não sabia nada a seu respeito, eu admito. Onde nasceu, onde cresceu... mas eu sei disso agora. E eu sei que o que sinto por você só vai aumentar. E eu vou compartilhar do seu passado, se esse for o preço.
Raiden: Não é assim. Ninguém pode compartilhar das coisas horríveis que fiz. Não é uma dessas coisinhas bonitinhas que casaizinhos guardam.
Rose: Eu aceito o bem e o mal, Jack. É o que se faz por quem se ama.
Raiden: Eu não quero dividir meu passado com ninguém. Quero que o esqueça.
Rose: Jack? Eu não lhe contei... sobre o que tenho feito também...
Raiden: Os dois últimos anos com você... têm sido muito mais do que eu podia esperar, mas eu não posso ir mais longe. Eu sei que você quer se casar, mas eu... eu não posso. Não posso arriscar começar uma família. Não há como apagar minha infância.
Rose: Tudo bem, Jack. Não diga mais nada...
Raiden, completamente desprotegido dentro do Arsenal Gear, começa sua busca por Snake...
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